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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Primórdios do Sindicalismo

Sendo o trabalho o instrumento de sobrevivência das pessoas; como se diz na gíria popular o “ganha pão” é também na teoria de Karl Marx a “Mais Valia” para aqueles que detêm os meios de produção. No conceito moderno a mais valia transformou-se em “agregação de valor”, ambos, mais valia e agregação de valor, nada mais são do que agregar trabalho a um produto qualquer.
Quanto mais trabalho mais valor, ou mais valia.
É fácil entendermos a mais valia.
Um operário no regime atual trabalha quarenta horas por semana e recebe “X” dinheiros de salários e produz digamos quarenta peças ou uma peça por hora.
Ao final do processo as peças vendidas são iguais ou superior em até oito vezes, ou mais, do valor pago de salário.
Eis ai a mais valia, valor agregado, ou lucro da atividade empresarial.
Simplificando ainda mais, o preço final do produto, tirando as despesas administrativas, taxas, impostos e encargos e de quatro a cinco vezes o valor do salário.
Na história da humanidade, no seu progresso econômico, no valor da riqueza historicamente produzida, os operários saíram da condição de escravos para a condição de assalariados.
No entanto, isto não ofereceu melhoria na condição de vida dos operários, que ao morrer por diversas doenças, a família não tinha recursos para fazer o seu sepultamento.
E há de convir que com as condições insalubres no trabalho e as precárias condições de vida as doenças eram uma constante na vida dos operários.
A solução encontrada foi a criação das associações  de beneficência ou de socorro mutuo que com a contribuição de cada um criava um “caixa” para suprir as despesas com funerais e socorro imediato a família do morto.
Isto deu resultados fantásticos e melhor, permitiu que os operários se reunissem para discutir seus problemas. As reuniões e discussões permitiram também que os operários acabassem por entender que juntos seriam muito mais fortes, eis ai o embrião do sindicalismo e dos sindicatos de hoje.   
A revolução industrial trouxe no seu bojo duas novas categorias sociais: os capitalistas e os operários.
Foi inevitável o confronto de interesses entre estas categorias, de um lado os capitalistas querendo lucrar mais, de outro os operários querendo um melhor salário.
Devemos lembrar que nos primórdios da atividade industrial a jornada de trabalho era de sol a sol, ou de mais de dezesseis horas diárias. Que o operário alugava não só a sua mão de obra, mas da esposa e de filhos de qualquer idade, todos iam para as fábricas. A ocorrência de mulheres dando a luz dentro das fábricas era uma constante, paria e em seguida voltava ao trabalho por exigência patronal. Centenas de milhares de parturientes, pelas condições insalubres perderam a vida em razão das complicações pós parto; é claro os recém natos não tinham melhor sorte.
A vida dos operários e camponeses nunca foi fácil, da situação de escravos ou de servos, para a condição de operário não mudava em muito a sua condição de sobrevivência, a penúria, as necessidades e ameaças continuavam em escala insuportáveis.
A diferença é que como camponeses viviam em ilhas humanas, nos castelos e nos feudos sem contato com o mundo exterior, sofriam as agruras de um trabalho penoso e forçado e se submetiam em nome da misericórdia divina que só chegava depois da morte.
A natureza da Revolução Industrial criou ao contrário da vida camponesa o aglomerado de pessoas que viviam nos becos e nas ruelas das cidades. Este foi sem dúvida um elemento importante para a organização dos assalariados já que viviam os mesmos dramas e tinham em comum os mesmos problemas.
No século XIX (1850) surge na Europa, mais precisamente na Inglaterra e na França; e nos Estados Unidos (1830) as primeiras organizações sindicais e em 1886 foi criada a mais forte organização sindical no mundo a AFL – Federação Americana do Trabalho.
No Brasil, somente a partir de 1930 com a regulamentação por decreto foi permitida a associação sindical de patrões e operários.


Ops: No Próximo artigo falarei do sindicato como vetor da melhoria das condições de vida e de trabalho dos operários.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Poder aos trabalhadores


Nenhuma época histórica proporcionou tantos motivos para os trabalhadores pensarem e repensarem a sua condição, a sua realidade e os seus problemas como a época atual.

O desenvolvimento técnico-científico que na maioria das vezes permite a integração internacional e o processo neoliberal tem como resultado a amplitude assombrosa dos riscos para a classe trabalhadora.  
Nunca em nenhum tempo o homem conhece tanto e nunca em nenhum tempo este conhecimento se voltou para o aniquilamento das concessões transformadas em conquistas pela elite dos trabalhadores.
Num olhar para a história vamos ver que o sistema agrário e seus “senhores” dominando o trabalho no campo e a produção agrícola/pastoril, explorando o trabalho escravo, vingou por milênios, até os meados do século XVIII.
Neste contexto nasce à figura do estado e a sua função de nortear e regular o “mudus vivendi” dos “senhores” proprietários de terras e a submissão a um soberano que a todos governava num espaço territorial específico denominado de pais cujo povo por seus hábitos, língua e costumes se identificavam em forma de nação, ou pelo mesmo sentimento de pátria, de sítio ou local onde se vive e se amolda o caráter.
O estado com o passar dos tempos e pelas necessidades de convivência e de dominação se aperfeiçoa e chega ao modelo atual de soberania e de poder, sempre em favor do capital e dos “senhores” no tempo.
Voltando a análise da progressão e evolução dos sistemas de produção, vamos identificar dentro do sistema agrário/agrícola o surgimento das cidades que crescem e na medida em que se desenvolvem trazem consigo os diferentes estratos sociais e seus conflitos.
Tudo o que a cidade necessitava era produzido pelos artesões dono da habilidade de fabricar coisas e instrumentos, inclusive os de guerra.
A exigência das cidades faz com que a produção artesanal se torne insuficiente e novos meios de produção são agregados ao modo de fazer, surge à figura do aprendiz e surgem novos equipamentos e máquinas para aumentar a produção.
As máquinas ainda que manuais produzem uma revolução no sistema produtivo, e mais máquinas se desenvolve, novos produtos químicos, do ferro, o uso da água e do vapor provocam uma escalada no processo de produção de mercadorias.
A revolução industrial traz no seu bojo outras três grandes revoluções: A revolução francesa que contesta e derruba a monarquia; A libertação dos escravos na Inglaterra e o ressurgimento do salário, desta feita em moeda corrente.
Com a revolução industrial surge um novo componente nas relações de poder do estado.
Se antes eram apenas os “Senhores” donos de terras a terem poder, agora surgia os industriais e os comerciantes, moradores do “burgo” zona nobre da cidade a exigirem sua participação no processo político para defenderem os seus interesses na governança do país e nas regras de gestão do estado. Grandes mudanças se dão, inclusive, a Revolução Francesa provocando alteração do “estatus quo” não só na França, mas em toda a Europa.
Também, é claro, surge à luta dos trabalhadores por melhor qualidade de vida e de trabalho, o artesão desapareceu e as diversas categorias profissionais enfrentavam o patronato para conquistarem direitos sociais.
O modelo industrial prevaleceu sobre o agrário e dominou o estado até o surgimento do sistema financeiro e de mercado que domina a economia e a política não só nacionalmente, mas mundialmente.
Na luta dos trabalhadores contra a exploração patronal é desenvolvida concepções de um novo modelo de estado, desta feita sob o controle dos trabalhadores que passariam de assalariados para donos do capital ou das riquezas historicamente produzidas.
Uma nova revolução ocorre na Europa em 1917, desta vez na Rússia tendo como sustentação a idéia de se implantar um estado sob o domínio dos trabalhadores.
Os trabalhadores são vencedores e inicia-se a implantação e consolidação do estado proletário, que de imediato e denominado de estado “soviético” que significa trabalhadores governando a si mesmo.
O Estado soviético provocou a exemplo da Revolução Francesa, grandes transformações sociais na Europa e nos EEUU, mudando as relações de poder e a garantindo aos trabalhadores melhores qualidade de vida e de trabalho.
A partir de 1930, após o grande caos financeiro e a quebra da bolsa de valores em Nova York as teorias do reajustamento do estado e a implantação de políticas sociais como fator de desenvolvimento foram implantadas, primeiro nos países nórdicos.
Com a segunda guerra mundial foi possível aos soldados pertencentes à força denominada de “aliados” constatar que os soldados russos tinham melhores condições para fazerem a guerra que seus parceiros europeus; A alimentação era melhor, as armas eram melhores, o fardamento e a proteção contra o frio muito melhores.
É claro que a troca de informação foi constante. Terminada a guerra a propaganda dos soldados entre seus pares e familiares toma corpo e os donos do capital investiram pesadamente no sistema de bem estar social, concedendo aos trabalhadores, benefícios reivindicados nas lutas sindicais, de mais de um século.
Com o fim do bloco soviético, o sistema financeiro mundial exige dos governos da Europa e do mundo à volta ao sistema escravocrata de poder.
É necessário suprimir direitos trabalhistas.
Para alcançar este objetivo tomam medidas restritivas de crédito e exigem a liquidação de passivos dos estados para o sistema financeiro.
Sem dinheiro e tendo que pagar a conta, a alternativa dos governantes é o aumento dos impostos e a venda de patrimônios públicos, a diminuição da máquina do estado com a redução de postos de trabalho, não pagamento de férias e de abonos diversos.
Estabelece-se o medo como moeda e a pressão como argumento.
Milhões de trabalhadores perderam o emprego pelos efeitos nocivos que as medidas ditas de “austeridade” impuseram as economias.
Se o salário foi uma redescoberta, a ausência dele provoca retração econômica em todos os níveis.
É necessário dizer que os trabalhadores não estão satisfeitos com esta forma de remuneração da atividade laboral. O salário já não satisfaz a maioria dos trabalhadores que exigem uma repartição maior das riquezas historicamente produzidas e buscam reduzir a distancia entre o maior e o menor salário.
Ocorre que o poder econômico domina o estado, ou para melhor entendimento o estado esta a serviço do poder econômico.
Não tenho duvidas de dizer que enquanto o conjunto dos trabalhadores não se organizarem para dominar o poder político, vão ter sempre o estado como mediador entre o pescoço e a forca, ou seja: na defesa dos interesses do sistema financeiro.
É necessário, pois um repensar dos trabalhadores da cidade e do campo, sobre o seu futuro e quais mudanças deve fazer para participarem com isonomia das riquezas historicamente produzidas.








   

sábado, 29 de junho de 2013

Lições no Caos I


O Caos
Na teoria do Khaus (caos) o bater das asas de uma borboleta no oriente pode provocar um tufão no ocidente.
Nesta mesma teoria os fractais são a parte de um todo encontrada em todas as partes do todo, ou seja: aproximando-se uma lente de um pedaço qualquer vamos encontrar neste pedaço a forma do todo em pedaços iguais ao que você examina.
Se você olhar do alto, da janela de um avião, por exemplo, e tirar uma fotografia de uma baía, examinando-a depois vai perceber que ela se reproduz igualmente em várias pequenas baías.Há os que afirmam que isto é o dedo de Deus na criação da natureza. Não vou tão longe, ainda que veja o dedo dele em todas as coisas.
Na teoria do caos, A idéia é que uma pequena variação nas condições em determinado ponto de um sistema dinâmico pode ter consequências de proporções inimagináveis.  
O Brasil próximo do Caos
Vejamos o que esta ocorrendo no Brasil neste momento.
Em mais de uma centena de cidades, pequenas e grandes os jovens foram às ruas protestar e levaram na bagagem uma variedade tão grande de insatisfação que dizem, confundiu e confunde até os mais experientes estudiosos do sistema social.
Não creio nisso, creio que as ciências sociais estão tão comprometidas com o modelo econômico vigente que omitiram a insatisfação das pessoas diante de uma realidade tão adversa, como adversa são as intempéries da vida.
Aqui se pegarmos todas as manifestações vamos ver que elas são similares na forma e no jeito de fazer. A dualidade esta presente inclusive no uso de marginais para fazerem provocações, sem tirar e nem botar na metodologia de agressão do manifestante sectário com coquetéis molotov nas mãos e a policia reprimindo com as ditas bombas de efeito moral e o esprei de pimenta. É a mesma coisa em todos os lugares. A fotografia é igual, mudam apenas os personagens.
Mas há uma coisa que não é igual. 
Europa falida
Na Europa a população foi para as ruas depois do khaus econômico ter se instalado quando já não havia nada para buscar e sim tudo para recuperar. Ela a população jovem não se apercebeu que o seu emprego, a sua universidade, a sua casa, a sua renda tinham ido para o fundo do poço e que era impossível recuperá-la. O golpe havia sido dado e o estado social já não mais existe. Toda a riqueza produzida depois da segunda guerra mundial havia se transferido para uma pequena parcela da população que não tem pátria, não tem povo e não faz parte de uma nação. Eles os “escudos vermelhos” não tem cara, não tem rosto.
Lá os países só sairão da crise se os trabalhadores daqui resolverem mudar o mundo, coisa que no momento me parece impossível.
Ora, se a riqueza foi para as mãos de uns poucos, significa dizer que os micros, pequenos e médios empresários da cidade e do campo também perderam seus patrimônios, diga-se uma calamidade; e se ontem os pobres buscavam abrigo alimentar nas instituições de caridade, hoje também muitos ex ricos estão nos balcões solicitando ajuda, e os que ainda não estão, se a coisa não mudar em breve estarão, sem contarmos a multidão dos que preferiram a morte pelo suicídio.
Porém pela pressão dos jovens os governos do bloco comum europeu resolveram afrouxar o cinto e vão, dizem os jornais, investir mais de um bilhão de euros nos próximos dois anos para gerar trabalho e renda. Vão investir o que retiraram das nações e os salários serão infinitamente menores dos de antes. 
Voltamos ao nosso meio.
Há uma fala popular que diz da leniência de nosso povo, do acomodamento, da subserviência e do apego as autoridades e governos.
Parece-me que a juventude esta rompendo com estes paradigmas e foi à rua dizer que basta.
Aqui diferente da Europa o País vive uma era de quase pleno emprego. O estado e a iniciativa privada apostaram em cursos terminais de qualificação profissional e milhares de pessoas passaram para a condição de profissionais primários e exercem funções nas mais diversas atividades econômicas.
Portanto nós temos uma situação bem diferente e parece, mas não é uma coisa articulada, uma ação de grupos de poder para desestabilizar o governo.
Porém, a articulação do “escudo vermelho” se deu e se dá em confronto com o governo da Dona Dilma; pois vejam, foi só o estado reduzir as taxas de juros do seu endividamento e ressurge um inicio de crise que atinge principalmente os mais pobres, com o aumento dos preços dos produtos alimentares, dos remédios e dos alugueis, a chamada inflação.
Esta crise sim foi articulada pelos donos do poder com o apoio de segmentos da classe média que ainda não engole o governo popular que governa para todos, principalmente para os mais pobres.
Cabe-me dizer que os jovens do mundo todo refletem uma insatisfação ainda não explicada cientificamente, mas que tenho convicção se origina no modelo econômico de distribuição de renda.
Prometo abordarei sobre isto impreterivelmente no próximo artigo.
Veremos fractais sociais em todos os cantos do mundo e só um pacto social entre empregados e empregadores mudarão isto.
 

 

 

 

 

 

quarta-feira, 26 de junho de 2013

O Primeiro Passo.

Olhando tudo o que esta acontecendo no Brasil dos últimos dias, me deu conta de ser necessário fazer pequenas reflexões sobre o real motivo desta onda que assola o país.
Primeiro constatar que o povo nas ruas desnudou a classe política, tanto que as oposições se queixam da falta de convites da Presidência da República para o diálogo de e sobre a mobilização nacional.
A verdade é que todos ficaram abobalhados com a movimentação das ruas, inclusive ancoras (prepotentes) de grandes jornais televisivos que não sabiam o que dizer e como se portar diante da novidade em forma de protestos.
É bom que se diga que os manifestantes também não; pela falta de unidade de reivindicações. O cabedal do que se diz nas passeatas é samba de criolo doido.  Se Stanislaw Ponte Preta fosse vivo faria com certeza outra paródia.
Assusta-me é ver a onda de protestos sair do controle do MPL e se alongar por intermináveis dias. O caos pode ser o próximo passo e no rescaldo das cinzas poderemos ter um retrocesso violento contra a democracia.
Os insufladores não querem uma nova ordem, querem a desordem para poder agir como agiram ali no passado recente, impondo ao país um golpe civil/militar que duraram longos vinte e cinco anos e deixou na estrada, além dos mortos e feridos, as lideranças civis que o apoiou no primeiro momento e foi alijada no processo histórico.
Não quero viver novamente este pesadelo.
Porém, importa dizer é que as massas estão indo às ruas, não pelo desespero de estar desempregada como ocorre também agora na velha Europa, há outra motivação na alegada repulsa aos maus serviços públicos de educação, saúde, transporte, segurança, moradia e tantos outros neste maravilhoso mosaico de postulações.
A insatisfação verdadeira das massas ainda não foi revelada porque nem ela mesma se da conta de que sua insatisfação se dá pelo modelo de distribuição de riquezas onde o salário é a figura central.
Na velha Europa o capital financeiro apertou os governos, retirou o apoio financeiro e a aparente prosperidade foi para o brejo, centenas de milhares de pessoas de todos os níveis sociais perderam tudo e foram jogados na rua da amargura.
Aqui entre nós a Presidenta aperta o governo e a taxa selic despenca para níveis há muito tempo não visto no Brasil. Bastou para a inflação disparar, o dólar subir e o descontentamento aflorar nas ruas. Descontentamento insuflado pela classe média que como disse Marilena Chaui, além de burra é golpista.
Vão todos cair do cavalo: Primeiro porque o governo que ai esta vai sair fortalecido deste episódio e segundo porque o povo vai botar o trem nos trilhos, vai exigir participação nas decisões e o modelo representativo desaparecerá e se tornará com certeza, participativo.
Mas a luta não para ai, este movimento pode arrefecer por um tempo, mas não por todo o tempo, a insatisfação vai continuar e as ruas vão novamente ser tomadas para se deliberar que modelo econômico se quer. Unidos, europeus, americanos, asiáticos, orientais e africanos, o povo fará a revolução pacifica e dará um salto na sua qualidade de vida.
E depois vira o segundo passo.  
 

sábado, 15 de junho de 2013

O Vasio da frustração.

Artigo publicado na Tribuna da Imprensa de 15/06/2013.

Carlos Chagas
De quando em quando surpreendem-me cobranças de gente séria, amigos e companheiros de longa data, alguns até indignados com comentários de minha lavra, cáusticos para com o ex-presidente Fernando Henrique. Afinal, durante longos anos admiramos a trajetória do Príncipe dos Sociólogos, personalidade que emergia dos porões da ditadura como esperança bem nascida para o Brasil superar os tempos bicudos e obscuros do pensamento único e do enquadramento de nossa sociedade nas jaulas do obscurantismo.
Afinal, de jovem participante da campanha do “Petróleo É Nosso” ao professor universitário que contestava o modelo imposto pelo capitalismo selvagem do chamado “Mundo Livre”, sem radicalismos, ele apontava novos rumos para o Terceiro Mundo. Nada de aventuras inspiradas pela justa indignação dos oprimidos de armas na mão, mas um roteiro social aberto à construção do futuro comum onde a Humanidade prevaleceria sobre o egoísmo das elites ensandecidas pela loucura do lucro a qualquer custo.
Por conta de sua pregação igualitária, foi perseguido, obrigou-se a deixar o país, resistindo no Chile, na Sorbonne e depois, antes mesmo da anistia, na cruzada pela redemocratização nacional. Poucos se deram conta de sua enrustida metamorfose financiada pela Ford Foundation, mas nada havia de pecaminoso em dialogar com os contrários.
Mergulhando num oceano que não era o dele, deu a impressão de buscar apoio no sindicalismo político das madrugadas nas portas das fabricas, junto com o emergente Lula, até tentando atropelar a unidade dos adversários unidos na contestação ao regime militar. Lançou-se candidato ao Senado contra a avalancha chamada Franco Montoro, coisa que entendemos.
Perdeu, mas encontrou a saída ao ficar na primeira suplência, sabendo que dois anos depois o cacique se elegeria governador de São Paulo e abriria espaço para a ascensão do índio emplumado. Talvez já tivesse mudado de ideologia, se algum dia teve alguma, mas enganou com maestria, até apresentando projeto capaz de limitar as grandes fortunas. Passaram a desconfiar dele luminares como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e o próprio Franco Montoro, mas os tempos ainda eram de união entre os contrários para o enfrentamento do inimigo comum.
Veio a democratização, depois a Assembléia Nacional Constituinte. Poucos notaram que o ego suplantara o ideal das boas intenções. FHC quis ser líder, relator-geral e o mais que pudesse projetá-lo cada vez sem maiores compromissos com projetos sociais anteriores. Novamente derrotado nas pretensões, caminhava para candidatar-se a deputado, sem garantia de eleger-se.
Aceitou a sondagem do novo presidente da República, Fernando Collor, para encerrar a carreira publica como ministro das Relações Exteriores. Seu partido, o recém criado PSDB, não deixou, com Mário Covas à frente, ameaçando expulsá-lo. Acomodou-se, até que a vida mostrou-se mais intrincada do que a ficção. Itamar Franco convidou-o para Chanceler, imaginando um fim de vida entre recepções, jantares e viagens pelo mundo.
Nova reviravolta na roda da fortuna. Malogrando com dois ministros da Fazenda, obstinado em enfrentar a inflação, Itamar impôs a Fernando Henrique: ou aceitava liderar o combate ao dragão ou deixaria o governo. Deu certo, cercando-se de uma equipe mágica. Virou candidato à presidência da República pelo sucesso do Plano Real.
Retemperaram-se os antigos admiradores. Abria-se a oportunidade da recuperação do tempo perdido. Afinal, ainda era a esperança bem nascida de o Brasil encontrar seu caminho para o socialismo democrático. Foi quando atingiu a todos com a deletéria frase do “esqueçam tudo o que eu escrevi”. Não esquecemos. Só ele esqueceu, ao imprimir a mais trágica destruição das estruturas nacionais. Suprimiu direitos sociais, escancarou a economia à sanha dos predadores alienígenas. Destruiu boa parte da nova Constituição. Entregou tudo ao estrangeiro, desde o subsolo às garantias constitucionais de nossa independência. Distorceu as regras mais elementares do convívio político, impondo a própria reeleição e alterando as regras do jogo depois dele começado. Tornou-se o campeão do massacre da soberania brasileira.
É essa explicação de porque seus reais admiradores tornaram-se seus adversários. Não há mais lugar capaz de preencher o vazio da frustração. Pior do que o inimigo tradicional é o ex-amigo. Assim estamos na curva final de nossos oitenta anos. Ele, pleno de soberba e jactância. Nós, sentindo-nos traídos pela dedicação tantas vezes expressa a alguém que nos enganou.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Por que essa grita só com os cubanos?

Extraído do Blog do Pedro Porfírio.


Pedro Saraiva, médico brasileiro que trabalha em Portugal, escreveu a Luís Nassif questionando incoerências do CFM e da mídia


Olá Nassif, sou médico e gostaria de opinar sobre a gritaria em relação à vinda dos médicos cubanos ao Brasil. Bom, como opinião inteligente se constrói com o contraditório, vou tentar levantar aqui algumas informações sobre a vinda de médicos cubanos para regiões pobres do Brasil que ainda não vi serem abordadas.

– O principal motivo de reclamação dos médicos, da imprensa e do CFM seria uma suposta validação automática dos diplomas destes médicos cubanos, coisa que em momento algum foi afirmado por qualquer membro do governo. Pelo contrário, o próprio ministro da saúde, Antônio Padilha, já disse que concorda que a contratação de médicos estrangeiros deve seguir critérios de qualidade e responsabilidade profissional. Portanto, o governo não anunciou que trará médicos cubanos indiscriminadamente para o país. Isto é uma interpretação desonesta.

– Acho estranho o governo ter falado em atrair médicos cubanos, portugueses e espanhóis, e a gritaria ser somente em relação aos médicos cubanos. Será que somente os médicos cubanos precisam revalidar diploma? Sou médico e vivo em Portugal, posso garantir que nos últimos anos conheci médicos portugueses e espanhóis que tinham nível técnico de sofrível para terrível. E olha que segundo a OMS, Espanha e Portugal têm, respectivamente, o 6º e o 11º melhores sistemas de saúde do mundo (não tarda a Troika dar um jeito nesse excesso de qualidade). Profissional ruim há em todos os lugares e profissões. Do jeito que o discurso está focado nos médicos de Cuba, parece que o problema real não é bem a revalidação do diploma, mas sim puro preconceito.

– Portugal já importa médicos cubanos desde 2009. Aqui também há dificuldade de convencer os médicos a ir trabalhar em regiões mais longínquos, afastadas dos grandes centros. Os cubanos vieram estimulados pelo governo, fizeram prova e foram aprovados em grande maioria (mais à frente vou dar maiores detalhes deste fato).

A população aprovou a vinda dos cubanos, e em 2012, sob pressão popular, o governo português renovou a parceria, com amplo apoio dos pacientes. Portanto, um dos países com melhores resultados na área de saúde do mundo importa médicos cubanos e a população aprova o seu trabalho.

– Acho que é ponto pacífico para todos que médicos estrangeiros tenham que ser submetidos a provas aí no Brasil. Não faz sentido importar profissionais de baixa qualidade. Como já disse, o próprio ministro da saúde diz concordar com isso. Eu mesmo fui submetido a 5 provas aqui em Portugal para poder validar meu título de especialista. As minhas provas foram voltadas a testar meus conhecimentos na área em que iria atuar, que no caso é Nefrologia. Os cubanos que vieram trabalhar em Medicina de família também foram submetidos a provas, para que o governo tivesse o mínimo de controle sobre a sua qualidade.

Pois bem, na última leva, 60 médicos cubanos prestaram exame e 44 foram aprovados (73,3%). Fui procurar dados sobre o Revalida, exame brasileiro para médicos estrangeiros e descobri que no ano de 2012, de 182 médicos cubanos inscritos, apenas 20 foram aprovados (10,9%). Há algo de estranho em tamanha dissociação. Será que estamos avaliando corretamente os médicos estrangeiros?

Seria bem interessante que nossos médicos se submetessem a este exame ao final do curso de medicina. Não seria justo que os médicos brasileiros também só fossem autorizados a exercer medicina se passassem no Valida? Se a preocupação é com a qualidade do profissional que vai ser lançado no mercado de trabalho, o que importa se ele foi formado no Brasil, em Cuba ou China?

O CFM se diz tão preocupado com a qualidade do médico cubano, mas não faz nada contra o grande negócio que se tornaram as faculdades caça-níqueis de Medicina. No Brasil existe um exército de médicos de qualidade pavorosa. Gente que não sabe a diferença entre esôfago e traqueia, como eu já pude bem atestar. Porque tanto temor em relação à qualidade dos estrangeiros e tanta complacência com os brasileiros?

– Em relação este exame de validação do diploma para estrangeiros abro um parêntesis para contar uma situação que presenciei quando ainda era acadêmico de medicina, lá no Hospital do Fundão da UFRJ.

Um rapaz, se não me engano brasileiro, tinha feito seu curso de medicina na Bolívia e havia retornado ao país para exercer sua profissão. Como era de se esperar, o rapaz foi submetido a um exame, que eu acredito ser o Revalida (na época realmente não procurei me informar). O fato é que a prova prática foi na enfermaria que eu estava estagiando e por isso pude acompanhar parte da avaliação.

Dois fatos me chamaram a atenção, o primeiro é a grande má vontade dos componentes da banca com o candidato. Não tenho dúvidas que ele já havia sido prejulgado antes da prova ter sido iniciada. Outro fato foi o tipo de perguntas que fizeram.

Lembro bem que as perguntas feitas para o rapaz eram bem mais difíceis que aquelas que nos faziam nas nossas provas. Lembro deles terem pedidos informações sobre detalhes anatômicos do pescoço que só interessam a cirurgiões de cabeça e pescoço. O sujeito que vai ser médico de família, não tem que saber todos os nervos e vasos que passam ao lado da laringe e da tireoide. O cara tem que saber tratar diarreia, verminose, hipertensão, diabetes e colesterol alto. Soube dias depois que o rapaz tinha sido reprovado.

Não sei se todas as provas do Revalida são assim, pois só assisti a uma, e mesmo assim parcialmente. Mas é muito estranho os médicos cubanos terem alta taxa de aprovação em Portugal e pouquíssimos passarem no Brasil. Outro número que chama a atenção é o fato de mais de 10% dos médicos em atividade em Portugal serem estrangeiros. Na Inglaterra são 40%. No Brasil esse número é menor que 1%. E vou logo avisando, meu salário aqui não é maior do que dos meus colegas que ficaram no Brasil.

– Até agora não vi nem o CFM nem a imprensa irem lá nas áreas mais carentes do Brasil perguntar o que a população sem acesso à saúde acha de virem 6000 médicos cubanos para atendê-los. Será que é melhor ficar sem médico do que ter médicos cubanos? É o óbvio ululante que o ideal seria criar condições para que médicos brasileiros se sentissem estimulados a ir trabalhar no interior. Mas em um país das dimensões do Brasil e com a responsabilidade de tocar a medicina básica pulverizada nas mãos de centenas de prefeitos, isso não vai ocorrer de uma hora para outra.

Na verdade, o governo até lançou nos últimos anos o Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab), que oferece salários mensais de R$ 8 mil e pontos na progressão de carreira para os médicos que vão para as periferias. O problema é que até hoje só 4 mil médicos aceitaram participar do programa. Não é só salário, faltam condições de trabalho. O que fazemos então? Vamos pedir para os mais pobres aguentar mais alguns anos até alguém conseguir transformar o SUS naquilo que todos desejam? Vira lá para a criança com diarreia ou para a mãe grávida sem pré-natal e diz para ela segurar as pontas sem médico, porque os médicos do sul e sudeste do Brasil, que não querem ir para o interior, acham que essa história de trazer médico cubano vai desvalorizar a medicina do Brasil.

– É bom lembrar que Cuba exporta médicos para mais de 70 países. Os cubanos estão acostumados e aceitam trabalhar em condições muito inferiores. Aliás, é nisso que eles são bons. Eles fazem medicina preventiva em massa, que é muito mais barata, e com grandes resultados. Durante o terremoto do Haiti, quem evitou uma catástrofe ainda maior foram os médicos cubanos. Em poucas semanas os médicos dos países ricos deram no pé e deixaram centenas de milhares de pessoas sem auxílio médico.

Se não fosse Cuba e seus médicos, haveria uma tragédia humanitária de proporções dantescas. Até o New England Journal of Medicine, a revista mais respeitada de medicina do mundo, fez há poucos meses um artigo sobre a medicina em Cuba. O destaque vai exatamente para a capacidade do país em fazer medicina de qualidade com recursos baixíssimos (http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMp1215226).

– Com muito menos recursos, a medicina de Cuba dá um banho em resultados na medicina brasileira. É no mínimo uma grande arrogância achar que os médicos cubanos não estão preparados para praticar medicina básica aqui no Brasil. O CFM diz que a medicina de Cuba é de má qualidade, mas não explica por que a saúde dos cubanos, como muito menos recursos tecnológicos e com uma suposta inferioridade qualitativa, tem índices de saúde infinitamente melhores que a do Brasil e semelhantes à avançada medicina americana (dados da OMS).

– Agora, ninguém tem que ir cobrar do médico cubano que ele saiba fazer cirurgia de válvula cardíaca ou que seja mestre em dar laudos de ressonância magnética. Eles não vêm para cá para trabalhar em medicina nuclear ou para fazer hemodiálises nos pacientes. Medicina altamente tecnológica e ultra especializada não diminui mortalidade infantil, não diminui mortalidade materna, não previne verminose, não conscientiza a população em relação a cuidados de saúde, não trata diarreia de criança, não aumenta cobertura vacinal, nem atua na área de prevenção. É isso que parece não entrar na cabeça de médicos que são formados para serem superespecialistas, de forma a suprir a necessidade uma medicina privada e altamente tecnológica. Atenção! O governo que trazer médicos para tratar diarreia e desidratação! Não é preciso grande estrutura para fazer o mínimo. Essa população mais pobre não tem o mínimo!

Que venham os médicos cubanos, que eles façam o Revalida, mas que eles sejam avaliados em relação àquilo que se espera deles. Se os médicos ricos do sul maravilha não querem ir para o interior, que continuem lutando por melhores condições de trabalho, que cobrem dos governos em todas as esferas, não só da Federal, melhores condições de carreira, mas que ao menos se sensibilizem com aqueles que não podem esperar anos pela mudança do sistema, e aceitem de bom grado os colegas estrangeiros que se dispõe a vir aqui salvar vidas.

Infelizmente até a classe médica aderiu ao ativismo de Facebook. O cara lê a Veja ou O Globo, se revolta com o governo, vai no Facebook, repete meia dúzia de clichês ou frases feitas e sente que já exerceu sua cidadania. Enquanto isso, a população carente, que nem sabe o que é Facebook morre à mingua, sem atendimento médico brasileiro ou cubano.

sábado, 18 de maio de 2013

Lembrei


Recordar é viver, eu ontem sonhei com você.
Estava lembrando do que escrevi e postei ontem e diante do quadro que se apresenta para os trabalhadores global cujo estado trabalha freneticamente para retirar vantagens, aqui, ali e acolá.
Nestes dias o Congresso Nacional aprovou a tal de Medida Provisória dos Portos, que entre suas linhas tira direito dos trabalhadores portuários, já massacrados por leis anteriores de FHC. Vejam bem, quem tira direito de trabalhador é o governo dos trabalhadores comandado pela Presidenta Dilma, não é nenhum liberal ou social democrata equivocado, é uma petista de ontem, mas é.
Esta coisa esta perfilada no mundo todo.
É ordem do sistema financeiro internacional; e ordem deve ser cumprida.
Mas ontem me lembrei dos jovens, estudantes e trabalhadores da marcha de paris em maio de 1968. A França parou. Ontem me lembrei da marcha dos mais de cem mil estudantes brasileiros, entre eles muitos trabalhadores que combatiam a repressão e a ditadura militar.
Ontem me lembrei de dizer aos que me lêem que nem tudo esta perdido.
Lembrei de dizer aos trabalhadores de todas as partes e nações, os que realmente produzem e ficam excluído das riquezas; nós ainda temos o nosso sopro de vida para protestar contra o arbítrio e a violência do capital contra os trabalhadores.
Nestes dias os únicos que continuam a acumular em detrimento da fome e da miséria que se espalhou é o um por cento mais ricos porque amealham tudo o que os países produzem com a complacência de governos.
Lembrei ontem que contra o povo como massa nas ruas, não há força que a debele.
Mas lembrei também que é necessário lideres com posições firmes na condução dos processos e com carisma para conquistar a classe média sempre relutante e na dúvida do que é melhor e acaba acompanhando o discurso conservador, o menos arriscado e perigoso para a sua forma de viver, mesmo que depois tenha que apelar para a solidariedade e buscar alimento nas filas das bandejões.
Lembrei das eleições da Grécia onde a Syriza uma esquerda radical, não manteve o discurso de maio e acabou perdendo eleitores, inclusive para o partido neonazi, e a oportunidade de dar um chega pra lá para as políticas conservadoras.
Lembrei do Partido Socialista Frances e a vitoria de Francois Hollande, que deste então patina e não consegue desenvolver as políticas sociais e econômica prometidas e tem contra si retumbante índices negativos de aceitação.
Lembrei que estes fracassos abalam a moral do povo e de nações inteiras.
Mas lembrei também que governar dentro do espectro do domínio financeiro mundial é preciso muito mais que vontade, é necessário romper com o velho sistema de denominação, estabelecer a democracia participativa e manter o povo mobilizado na defesa de seus interesses.
Lembrei que é necessário dar um basta no sistema de concentração de riquezas e instituir modelo em que a maior remuneração não possa ser superior em mais de sete vezes a menor.
Lembrei que os sistemas ditos socialistas/comunistas são tão nefastos como o sistema liberal, portanto é necessário com luta, ardor e muito amor construir um sistema em que o estado intervirá permanentemente para manter as paridades estabelecidas.
Dou a este sistema o nome de “solidarismo”.
Lembrei que isto é possível, desde que as nações assim o queiram.
Lembrei do papel das lideranças operárias retirando o pelego de sobre suas costas e partindo para o embate na defesa dos postulados populares.
Lembrei que nós que trabalhamos devemos ter claro que não é a riqueza do outro que queremos, devemos sim buscar aquilo que nos pertence que é o suor do nosso trabalho que se esvai pelas políticas de um estado que esta a serviço de poucos.
Finalmente lembrei que somos a única força em atuação que mantém a mola propulsora do desenvolvimento, da autonomia e da liberdade.
Lembrei que eu e você, somos uma força que esta parada, temos que colocá-la em movimento.
Não devemos esquecer que a liberdade só é exercitada com condições, sem ela não existe liberdade.
Toquinho que canta estes versos: Recordar é viver, eu ontem sonhei com você diz ainda “Nega maluca qual é o pente que te penteia”.
Lembro de dizer: Não é utopia, uma chapinha resolve.


quinta-feira, 16 de maio de 2013

O remédio.


Na literatura médica e no adágio popular consta que todo remédio e veneno.
As noticias que nos tem chegado sobre o desempenho da economia na comunidade européia não são nada alvissareiras e trazem no seu bojo uma certeza de que o pior ainda esta por vir.
O que será pior do que o desemprego, a falência das médias e pequenas empresas, o suicídio como solução para a dor, a fome, o desalento e a desesperança causada por uma política que só beneficia o sistema financeiro global?
Com certeza a guerra.
Vejo nas entrelinhas do que escrevem o do que dizem os senhores do poder uma constatação nua e crua. A Europa só conseguira sair da situação em que se encontra se tomar o caminho sonhado por alguns para a federalização como uma grande nação no modelo americano.
Com certeza este modelo é rejeitado pela maioria das nações européias.
Sob a bandeira da União Soviética estavam varias etnias, que foram subjugadas pelo poderio militar. Na primeira oportunidade cada uma delas buscou a sua independência e o mapa mundial mudou de feição de uma hora para outra.
Foram várias as nações que surgiram, seguindo as suas vocações históricas e lutando para se concretizarem como nação autônoma e independente.
A Europa já passou por esta experiência durante a segunda guerra mundial com vários países sendo anexados pelo III Reich, terminada a guerra e a derrota dos Nazistas, as nações retomaram o seu caminho histórico e nenhuma sequer, optou em permanecer sob o domínio Deutschland.
A tentativa de dominação pelo econômico, ou seja, a submissão dos países do bloco comum europeu as determinações econômicas da maior potencia entre eles, tem causado um mal irrecuperável no curto prazo.
As informações contidas nos principais jornais dizem que houve recessão inclusive na Alemanha.
É claro que a ordem de aumentar impostos e reduzir investimentos por exigência do sistema financeiro, que quer reaver ao menos parte do investimento feito durante a guerra fria, obriga as pessoas a esconderem o seu pouco dinheiro e só consumirem o básico. É obvio que sem consumo, há demanda excedente, ou retração no sistema produtivo, havendo retração no sistema produtivo há o que os economistas chamam de deflação e a consequente retração econômica.
A Srª. Merkel esta colhendo os frutos que plantou e provavelmente será derrotada nas eleições vindouras, porque o povo Alemão, ate então privilegiado com a “austeridade” do bloco comum europeu, já não tem compradores para os seus produtos e nem mesmo um esforço descomunal poderá recuperar mercados numa quantidade suficiente para manter o crescimento do seu parque fabril.
O remédio receitado não só vem aniquilando as economias de países como Grécia, Espanha, Portugal, Holanda, Itália, Finlândia entre outros, que  vão de mal a pior.
O desemprego na Espanha e Grécia esta na casa dos vinte e cinco por cento da população economicamente ativa, ou seja de cada quatro pessoas uma esta desempregada.
Se o Mercado Comum Europeu era necessário para proteger as nações europeias da invasão do poder americano pós segunda guerra, a quebradeira americana esta levando a falência o modelo europeu de desenvolvimento e de agregação de riquezas.
O remédio receitado excedeu a capacidade imunológica do paciente e este esta a beira do colapso total.







segunda-feira, 6 de maio de 2013

Aprendi vendo



Quando ainda garoto, penso, tinha não mais de 10 anos.
Garoto, o mais velho de uma família que se tornou numerosa, era o encarregado quase que diariamente a ir no açougue, buscar os pedaços que minha mãe pedia.
Também era comum depois da escola correr pelas estradas, ruas e vielas do Bairro e não raro, ou quase sempre me deparava no matadouro do Sr. Miguel Napoli e via o abate dos animais que vinham quase sempre da região serrana, descendo a Serra da Veneza, então Distrito de Criciúma.
Eram animais bravios, xucros e violentos só dominados pelos treinados cães do matadouro.
Certo dia presenciei um boi de carro, portanto manso, sendo levado para o brete por um peão do açougue.
Ao contrário dos demais ia lentamente, mas tranqüilo sem opor resistência.
Na medida em que adentrava pelo corredor da morte, aquele animal deixou derramar lágrimas dos seus olhos, cabisbaixo, trôpego, era violentado pela tríade de ferro sobre o seu lombo, cada espetada dava um ou dois passos a frente em direção ao sacrifício.
No local do abate, orelha caída, aceitava passivamente o desfecho, uma estocada com uma adaga fina na jugular sobre a veia aorta e aos poucos a vida foi deixando-lhe o corpo pelo sangue que se esvaia aos borbotões.
Não deixou de chorar, desde o primeiro momento sabia que ia morrer de uma forma violenta e sem contemplação, aos poucos foi dobrando os joelhos sem um mugido, seus joelhos suportaram o corpanzil ainda por um tempo, até que seus oitocentos quilos esparramaram-se na laje fria, seu último espasmo foi uma lágrima sofrida entre as pálpebras que não se fecharam e parece contemplava a vida que se esvaia.
Esta cena ficou firme na minha memória, dias depois comentei com meu pai e ele me disse: “Se boi soubesse a força que tem, não puxava carro”.
Anos depois, já adulto e trabalhando como torneiro de manutenção na Serra Catarinense fui convidado por amigos para participar de um evento que fazia parte da cultura serrana que consistia no remanejamento e na castração de terneiros de ano.
Era uma festa, os peões jogam o laço nas patas dianteiras ou derrubam o terneiro a unha, ambos, animal e peão mostrando a sua bravura onde o primeiro é sempre um perdedor.
Derrubado o animal vem o castrador com uma lâmina afiadas e retira os testículos do bezerro dando uns pontos de linha para não haver infecção.
Confesso não fiquei muito entusiasmado com a lida, ao som de um acordeom que parece chora, os peões bebendo canha fazem uma festa, principalmente na hora de por os testículos no sal e jogarem no fogo, o calor faz que este pedaço de carne cozinhe e arrebente a pele,  transformando-se  num belo ornamento amarelo parecendo a gema de um ovo de galinha, confesso que tive receios para saborear aquilo, mas depois de degustar o primeiro me fartei tomando pinga e comendo ovo de touro.
No outro dia, meio de ressaca, levanta-se cedo, toma-se um Camargo e se vai para o entorno do fogo onde corre chimarrão de queimar os beiços, mas a surpresa fica pelo convite para presenciar o abate de uma vaca para o churrasco do almoço que nunca é antes das duas da tarde.
De forma simples na linguagem campeira, sou informado que aquela vaca, já produziu mais de treze crias, que tem mais de quinze anos e que no inverno quase morreu de magra. Olhei para o animal que estava preso por um laço e não vi um animal fraco, mas sim uma vaca gorda cuja pelo  reluzia.
O dono da invernada me diz que eu iria experimentar uma carne macia, tenra e saborosa. O segredo estava exatamente pela condição de magreza em que ficou o animal. Ao engordar as carnes se renovam adquirindo uma textura inimaginável para o paladar dos carnívoros.
A vaca foi levada para o tronco e para surpresa minha vi lágrimas derramarem de seus olhos, disse para quem estava do meu lado, - Este animal esta chorando. E ele me disse: -Sabe que vai morrer.
Por duas vezes vi animais bovinos domesticados chorarem diante da morte.
Hoje depois de ter trabalhado uma vida inteira, lembrei de milhões de aposentados que durante anos a fio deram do seu suor para o enriquecimento de uns poucos e são jogados numa condição de miserabilidade digna de quem vai para o matadouro, sem saúde, sem assistência a saúde e com um rendimento que vai ano a ano ficando menor.
Se não usarmos a força do boi vamos chorar piamente diante do calabouço da vida e morreremos sem nenhuma consideração, a morte será um alívio para os parentes mais próximos que nos suportam. Lembro de um ensinamento do meu pai quando não mais foi possível me manter na escola regulamentar: -“Filho, os homens aprendem de três formas, lendo, ouvindo e apanhando.
Aprendi vendo.


  

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Maioridade penal.


Há na Internet um sadio debate sobre a maioridade penal.
É preocupante, porém, que neste debate se proponha soluções que na realidade são draconianas socialmente.
Os países desenvolvidos só o são porque por anos a fio fizeram maciços investimentos na educação de seus infantes desde a mais tenra idade e continuam fazendo.
Os chineses saíram do limbo econômico, deixaram de ser país de terceiro mundo e estão assumindo a ponta do desenvolvimento, porque criaram condições de educação para todos.
As universidades americanas (privadas) foram tomadas pelos jovens cérebros chineses que retornam a seu país depois de concluída as etapas de formação acadêmica e de terem estagiado no complexo econômico americano. Da mesma forma, as universidades da Europa, principalmente as da Alemanha e França.
Aqui, um infante fica quatro horas na escola e o resto do tempo perambulando pela marginalidade da vida.
Mas não vejo debate que não seja o de permitir o trabalho do menino e da menina acima de quatorze anos, a escravização precoce.
Por que não como sociedade e como agente político exigir escolas de tempo integral, onde o garoto e a garota vão desenvolver seus potencias em todas as áreas lúdicas, a música, a dança, a representação, o esporte e o reforço do saber?
Por que em vez de formar cidadão preferimos inundar nossa sociedade com analfabetos funcionais?
Porque ainda permanece entre nossas elites o desejo de ter escravos.
E não deixa de ser escravo aquele que vive de salário, quanto mais baixo mais dependente dele. O salário escraviza.
Pense nisso.
E seja um lutador pela igualdade social.
Não tenha medo de romper com velhas barreiras preconceituosas.
Demita o velho opressor e adote um novo modelo para a tua vida.
Ainda há tempo.
Seja solidário com você mesmo.
Revolucione o teu viver.
E creia as angustia que te oprimem tornar-se-ão em alegria de viver.
Seja proativo.
Combata o “ESCUDO VERMELHO” que domina o mundo, submete reis, rainhas, democratas e ditadores.
Esta teia precisa ser rompida.
Informe-se. Saia do seu ciclo diário.
Busque informações fora do seu meio.
Acredite, todos os homens pertencem a uma mesma espécie “Homo sapiens” e a antropogênese não nos fez diferentes por questões econômicas, pelo contrário, somos todos iguais.
Se somos iguais, não somos diferentes.
Diferente é o macaco simão.
Faça uma experiência: Ponha uma criança pobre e uma abastada num mesmo ambiente e deixe-as crescerem e acabaras descobrindo que em oportunidades iguais, elas não são desiguais.
Hobbes disse que “O Homem é o lobo do homem”, nesta assertiva há o primitivismo humano.
Evoluiu, evolui, enche-se de tecnologia de conhecimento e de saber que nem o Criador domina Gn. 11.6, mas não consegue olhar para o lado e ver o outro como igual, sua primeira reação é dominar, subjugar, exercer poder, matar, destruir, excomungar entre tantas outras malvadezas do homem.
É possível criar um mundo de iguais.
Para isto devemos começar criando um mundo de homens sensíveis e propensos a alcançarem a igualdade, inicialmente com uma melhor distribuição das riquezas produzidas.
O estado deve ser o instrumento para normatizar e exigir a paridade, a isonomia, para se chegar à igualdade.
Os gregos a usaram muito antes da A.C.
Os bárbaros, os incivilizados pela cultura grega e depois romana, vieram, dominaram, expulsaram os invasores e impuseram suas crenças e seus costumes.
E é delas que herdamos a forma clássica de dominar.
Abandonemos a barbarismo econômico e adotemos uma nova forma de conviver, sem desconstruir.
Não é fácil.
Não é fácil porque a mente humana esta impregnada da seiva do mal e por acreditarem que o dinheiro (sem saber o que é isto) é a fonte da felicidade, querem-no a todo o custo.
Eis ai a solução para a maioridade penal.
Desconstruir esta forma Barbara de convivência entre hominídeos onde o dinheiro determina tudo.
Salve os que propõem coisas que parecem ser utópicas.