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sexta-feira, 5 de abril de 2013

Voltando no tempo



Perdi uma eleição para Prefeito de uma cidadezinha da região serrana do meu estado e com ela perdi tudo.
Perdi o direito de trabalhar e perdi o Sindicato do qual era presidente e um dos seus fundadores.
É quando por uma razão que a razão não explica fui provocar os membros de uma pequena Igreja Evangélica dessa cidade.
Eles foram os principais adversários que tive, tenazes, combatentes por terem acreditado nos meus concorrentes que diziam ser eu comunista e que comunista comia criancinhas.
Lá fiz uma gracinha entregando um buquê de flores silvestres num lindo vaso de barro, que adquiri no pé da serra.
Foi a primeira vez que adentrei pela porta de uma igreja evangélica e lá ouvi por obrigação o pregador, os hinos e as canções de louvor.
Não é que tenha me maravilhado; é que tudo me parecia corriqueiro, porem, rodeado de um misticismo crioulo e fantasioso, de uma negação da vida para valorizar a morte.
Morte que liberta. Morte que transcende o infinito e vai e vem de encontro ao desejo de não morrer, de ter uma vida eterna, de ser agraciado com o milagre da imortalidade.
Pareceu-me muito simples esta espécie de simbiose em que é necessário morrer para renascer para uma nova vida.
Naquela noite dormi mais tranqüilo. Havia demonstrado aos membros daquela igreja que os comunistas também amam.
Na verdade nunca fui comunista.
Confesso: não sabia como se portavam e como vivia um comunista, qual o seu papel na história e na vida das pessoas, ainda que uma década e meia  antes, os militares haviam dado um golpe de estado e assumido o poder com o discurso de que era necessário impedir que os comunistas tomassem o poder no país.
Fruto de uma introjeção planejada era na verdade um reacionário embutido, de tanto ouvir falarem dos males do sistema comunista para os trabalhadores.
Só mais tarde, muito mais tarde pude realmente entender o papel dos comunistas na sociedade e o que eles indicavam como salutar para o bem estar dos operários.
Passei a admirá-los e do meu jeito e modo repassar as mensagens vindas do seu meio.
Conheci homens bravos, honestos, probos, éticos e leais à causa operária, que eram comunistas. Todos com largo conhecimento sobre a história dos homens e o papel do capital na escravização das pessoas. Foi com eles que aprendi que o salário é um instrumento de denominação e que devia ser abolido.
Sem querer, inconsciente abri as portas para ser visitado e sem querer ser, fui sendo aos poucos evangelizado e acabei por aceitar o CRISTO como meu salvador e redentor.
Não foi um tempo longo, na verdade foi breve, um mês talvez entre a primeira visita e a aceitação e confissão pública da minha fé.
Porque me lembro disso e porque falo disso neste blog onde tenho tratado quase que exclusivamente de política para trabalhadores daqui, dali e de acolá?
Porque nos evangelhos descobri que a solução para os problemas humanos esta na construção do reino dos céus e na preparação da volta do CRISTO para a redenção final dos homens, dos que crêem e dos que não crêem.
Entendi que o mal da humanidade é a concepção de que é necessário acumular riquezas explorando o trabalho humano.
CRISTO foi enfático ao dizer que o reino dos céus não pertence aos ricos.
Pena que esta lição tenha sido transliterada de forma errônea e os que crêem no CRISTO, o fazem pela metade, deixando de seguir o caminho e usando seu nome para adquirir vantagens pessoais. Há ate aqueles que fazem fortuna sobre a multiplicação dos pães e sobre o sangue do cordeiro. Deixaram de crer no salvador e passaram a crer no provedor de bens materiais de toda ordem.
CRISTO veio para dizer aos homens que é necessário construir um reino sem explorados e sem exploradores e somente neste reino os homens viveriam em paz.
Sua mensagem foi tão enfática que os poderosos sacerdotes do templo de Israel o condenaram a morte.
Se a mensagem do CRISTO prosperasse eles acabariam sendo tratados como marginais e exploradores do nome do CRIADOR.
Não é diferente hoje. Os sacerdotes de todas as religiões cristãs só pensam na grandeza e na riqueza de sua igreja, a mensagem salvadora e redentora é mera questão de retórica.
Trinta e sete anos depois e depois da aceitação e da negação e da posterior aceitação da minha fé, encontro-me com disposição para novos enfrentamentos e quiçá possa  cumprir com o desejo do meu coração, servir ao  CRISTO indo levar o evangelho e fazer discípulos para a construção do reino.
Não é fantasia, é um desejo que acalenta e refrigera.
Esta volta no tempo é a certeza da afirmação de que o tempo não me pertence.






  

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