Perdi uma eleição para
Prefeito de uma cidadezinha da região serrana do meu estado e com ela perdi
tudo.
Perdi o direito de trabalhar e
perdi o Sindicato do qual era presidente e um dos seus fundadores.
É quando por uma razão que a
razão não explica fui provocar os membros de uma pequena Igreja Evangélica
dessa cidade.
Eles foram os principais
adversários que tive, tenazes, combatentes por terem acreditado nos meus
concorrentes que diziam ser eu comunista e que comunista comia criancinhas.
Lá fiz uma gracinha entregando um
buquê de flores silvestres num lindo vaso de barro, que adquiri no pé da serra.
Foi a primeira vez que adentrei
pela porta de uma igreja evangélica e lá ouvi por obrigação o pregador, os
hinos e as canções de louvor.
Não é que tenha me maravilhado; é
que tudo me parecia corriqueiro, porem, rodeado de um misticismo crioulo e fantasioso,
de uma negação da vida para valorizar a morte.
Morte que liberta. Morte que
transcende o infinito e vai e vem de encontro ao desejo de não morrer, de ter
uma vida eterna, de ser agraciado com o milagre da imortalidade.
Pareceu-me muito simples esta
espécie de simbiose em que é necessário morrer para renascer para uma nova
vida.
Naquela noite dormi mais
tranqüilo. Havia demonstrado aos membros daquela igreja que os comunistas
também amam.
Na verdade nunca fui comunista.
Confesso: não sabia como se
portavam e como vivia um comunista, qual o seu papel na história e na vida das
pessoas, ainda que uma década e meia antes, os militares haviam dado um golpe de
estado e assumido o poder com o discurso de que era necessário impedir que os
comunistas tomassem o poder no país.
Fruto de uma introjeção planejada
era na verdade um reacionário embutido, de tanto ouvir falarem dos males do
sistema comunista para os trabalhadores.
Só mais tarde, muito mais tarde
pude realmente entender o papel dos comunistas na sociedade e o que eles
indicavam como salutar para o bem estar dos operários.
Passei a admirá-los e do meu
jeito e modo repassar as mensagens vindas do seu meio.
Conheci homens bravos, honestos,
probos, éticos e leais à causa operária, que eram comunistas. Todos com largo
conhecimento sobre a história dos homens e o papel do capital na escravização
das pessoas. Foi com eles que aprendi que o salário é um instrumento de
denominação e que devia ser abolido.
Sem querer, inconsciente abri as
portas para ser visitado e sem querer ser, fui sendo aos poucos evangelizado e
acabei por aceitar o CRISTO como meu salvador e redentor.
Não foi um tempo longo, na
verdade foi breve, um mês talvez entre a primeira visita e a aceitação e
confissão pública da minha fé.
Porque me lembro disso e porque
falo disso neste blog onde tenho tratado quase que exclusivamente de política
para trabalhadores daqui, dali e de acolá?
Porque nos evangelhos descobri
que a solução para os problemas humanos esta na construção do reino dos céus e
na preparação da volta do CRISTO para a redenção final dos homens, dos que crêem e dos que não crêem.
Entendi que o mal da humanidade é
a concepção de que é necessário acumular riquezas explorando o trabalho humano.
CRISTO foi enfático ao dizer que
o reino dos céus não pertence aos ricos.
Pena que esta lição tenha sido
transliterada de forma errônea e os que crêem no CRISTO, o fazem pela metade,
deixando de seguir o caminho e usando seu nome para adquirir vantagens
pessoais. Há ate aqueles que fazem fortuna sobre a multiplicação dos pães e
sobre o sangue do cordeiro. Deixaram de crer no salvador e passaram a crer no
provedor de bens materiais de toda ordem.
CRISTO veio para dizer aos homens
que é necessário construir um reino sem explorados e sem exploradores e somente
neste reino os homens viveriam em paz.
Sua mensagem foi tão enfática que
os poderosos sacerdotes do templo de Israel o condenaram a morte.
Se a mensagem do CRISTO
prosperasse eles acabariam sendo tratados como marginais e exploradores do nome
do CRIADOR.
Não é diferente hoje. Os
sacerdotes de todas as religiões cristãs só pensam na grandeza e na riqueza de
sua igreja, a mensagem salvadora e redentora é mera questão de retórica.
Trinta e sete anos depois e
depois da aceitação e da negação e da posterior aceitação da minha fé,
encontro-me com disposição para novos enfrentamentos e quiçá possa cumprir com o desejo do meu coração, servir
ao CRISTO indo levar o evangelho e fazer
discípulos para a construção do reino.
Não é fantasia, é um desejo que
acalenta e refrigera.
Esta volta no tempo é a certeza
da afirmação de que o tempo não me pertence.
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