Ele era um negro alto, forte, de
ombros largos, sorriso franco, seu olhar revelava muita altivez sem ser
arrogante ou presunçoso. Caminhava ereto com a dignidade dos homens livres.
O conheci no início de 1968
quando fui ser torneiro mecânico de manutenção numa empresa de exploração de araucária
na região serrana de Santa Catarina, meu estado.
Sua fala e seu linguajar eram de
uma pessoa inculta, porém, sua sabedoria transpassava o corriqueiro e o comum.
Era profundo na sua fé.
Confesso por várias vezes me
irritei com a sua submissão a ação arbitrária do diretor executivo da empresa
que tinha o prazer de espezinhá-lo, de submetê-lo ao vexame desacatando-o
perante seus colegas de trabalho.
Ele apenas abaixava a cabeça sem
nenhuma reação que denotasse ódio, raiva, ira ou mesmo ironia. Escutava pacientemente
e nada dizia.
Certa vez ele estava fazendo um
reparo na parte móvel de um reboque usado para transportar madeira e neste
momento pude ver o quão era covarde aquele patrão, que ao aproximar-se por detrás
falou alto e áspero e o negro que estava com uma machadinha na mão volta-se
rapidamente para o opressor, que se vira e foge pálido como um defunto. Foi à
única vez que vi um sorriso no rosto dele que ainda disse: espera, não quero
atacá-lo, daí mesmo é que o covarde apressou o passo.
Depois de muito tempo, depois da
minha conversão a doutrina de CRISTO e depois de ter ido e vindo meditando
sobre aqueles tempos e que pude entender as razões da passividade e das
agressões. Era ambos de uma religiosidade diferente, o patrão de descendência árabe
e mulçumana ainda que não praticante e ele CRISTÃO convicto de que deveria,
como ensinou Paulo aos Efésios Cap. 6. Versus 5 a seguir, servir ao seu senhor,
não para agradar a homens, mas como servos de CRISTO para agradar ao CRIADOR.
Da mesma forma Paulo recomenda aos Colossenses a mesma prática de obedecer sem
se exaltar e de obedecer sem resistir cl 3.22 S. Em Tito, Paulo repete a formula
e acrescenta que em tudo devem os servos sejam obedientes, dando-lhes motivo de
satisfação Tt. 2.9 S.
É claro que Paulo visava sempre na
sua doutrina fazer com que o CRISTÃO fosse à representação terrena do SALVADOR (que
sofreu pacientemente as humilhações sacerdotais) é um espelho pelo qual seus
interlocutores vêm a gloria do CRISTO, já que somos transformados de gloria em
gloria II Co 3.18. Tiago o irmão de Cristo disse que “se alguém é ouvinte da
palavra e não cumpridor é semelhante a um homem que contempla num espelho o seu
rosto natural. Tg 1.23.
O Irmão Vardivino do qual estou
falando, na sua simplicidade quase rude não tinha dúvida de que queria ser o
CRISTÃO descrito por Paulo e fugindo do “conhecedor” descrito por Tiago.
Foi bom conhecê-lo, foi bom
receber as recomendações dele, foi muito bom ter convivido com ele e com ele
aprendido e apreendido preciosas lições de vida e para a vida.
Quanto me exalto e sou rude no
meu linguajar de operário lembro-me das lições de Paulo e lembro-me do exemplo
do seu Vardivino que aceitava a perseguição não de um incrédulo, mas de um
adversário do evangelho.
Tenho convicção que vou
encontrá-lo na ressurreição quando da volta de CRISTO e o verei julgando os
anjos.
olá cunhado, texto muito interessante, nos faz pensar na nossa realidade diária
ResponderExcluirOla companheiro !
ResponderExcluirO mundo mudou, ainda hoje encontramos pessoas, dirigentes que possui o mesmo tratamento criticado por eles.O nazismo dizem que acabou, nas ficou o terrorismo, ainda usado por muitos patrões e sindicalistas que issurpam o seu proprio povo.
É verdade, o dia a dia é um exemplo de como não ser.
ResponderExcluirQuanto as mudanças do muindo posso afirmar com convicção que nos nossos sertões ainda funciona o sistema feudal rígido, onde o agregado não recebe salário, trabalha a terra primeiro para o patrão e depois para ele. A escravidão persiste. Somos escravos do salário que avilta e embrutece.