Páginas

quarta-feira, 10 de abril de 2013

A lição



Ele era um negro alto, forte, de ombros largos, sorriso franco, seu olhar revelava muita altivez sem ser arrogante ou presunçoso. Caminhava ereto com a dignidade dos homens livres.
O conheci no início de 1968 quando fui ser torneiro mecânico de manutenção numa empresa de exploração de araucária na região serrana de Santa Catarina, meu estado.
Sua fala e seu linguajar eram de uma pessoa inculta, porém, sua sabedoria transpassava o corriqueiro e o comum.
Era profundo na sua fé.
Confesso por várias vezes me irritei com a sua submissão a ação arbitrária do diretor executivo da empresa que tinha o prazer de espezinhá-lo, de submetê-lo ao vexame desacatando-o perante seus colegas de trabalho.
Ele apenas abaixava a cabeça sem nenhuma reação que denotasse ódio, raiva, ira ou mesmo ironia. Escutava pacientemente e nada dizia.
Certa vez ele estava fazendo um reparo na parte móvel de um reboque usado para transportar madeira e neste momento pude ver o quão era covarde aquele patrão, que ao aproximar-se por detrás falou alto e áspero e o negro que estava com uma machadinha na mão volta-se rapidamente para o opressor, que se vira e foge pálido como um defunto. Foi à única vez que vi um sorriso no rosto dele que ainda disse: espera, não quero atacá-lo, daí mesmo é que o covarde apressou o passo.
Depois de muito tempo, depois da minha conversão a doutrina de CRISTO e depois de ter ido e vindo meditando sobre aqueles tempos e que pude entender as razões da passividade e das agressões. Era ambos de uma religiosidade diferente, o patrão de descendência árabe e mulçumana ainda que não praticante e ele CRISTÃO convicto de que deveria, como ensinou Paulo aos Efésios Cap. 6. Versus 5 a seguir, servir ao seu senhor, não para agradar a homens, mas como servos de CRISTO para agradar ao CRIADOR. Da mesma forma Paulo recomenda aos Colossenses a mesma prática de obedecer sem se exaltar e de obedecer sem resistir cl 3.22 S. Em Tito, Paulo repete a formula e acrescenta que em tudo devem os servos sejam obedientes, dando-lhes motivo de satisfação Tt. 2.9 S.
É claro que Paulo visava sempre na sua doutrina fazer com que o CRISTÃO fosse à representação terrena do SALVADOR (que sofreu pacientemente as humilhações sacerdotais) é um espelho pelo qual seus interlocutores vêm a gloria do CRISTO, já que somos transformados de gloria em gloria II Co 3.18. Tiago o irmão de Cristo disse que “se alguém é ouvinte da palavra e não cumpridor é semelhante a um homem que contempla num espelho o seu rosto natural. Tg 1.23.
O Irmão Vardivino do qual estou falando, na sua simplicidade quase rude não tinha dúvida de que queria ser o CRISTÃO descrito por Paulo e fugindo do “conhecedor” descrito por Tiago.
Foi bom conhecê-lo, foi bom receber as recomendações dele, foi muito bom ter convivido com ele e com ele aprendido e apreendido preciosas lições de vida e para a vida.
Quanto me exalto e sou rude no meu linguajar de operário lembro-me das lições de Paulo e lembro-me do exemplo do seu Vardivino que aceitava a perseguição não de um incrédulo, mas de um adversário do evangelho.
Tenho convicção que vou encontrá-lo na ressurreição quando da volta de CRISTO e o verei julgando os anjos.

3 comentários:

  1. olá cunhado, texto muito interessante, nos faz pensar na nossa realidade diária

    ResponderExcluir
  2. Ola companheiro !
    O mundo mudou, ainda hoje encontramos pessoas, dirigentes que possui o mesmo tratamento criticado por eles.O nazismo dizem que acabou, nas ficou o terrorismo, ainda usado por muitos patrões e sindicalistas que issurpam o seu proprio povo.

    ResponderExcluir
  3. É verdade, o dia a dia é um exemplo de como não ser.
    Quanto as mudanças do muindo posso afirmar com convicção que nos nossos sertões ainda funciona o sistema feudal rígido, onde o agregado não recebe salário, trabalha a terra primeiro para o patrão e depois para ele. A escravidão persiste. Somos escravos do salário que avilta e embrutece.

    ResponderExcluir